terça-feira, 10 de junho de 2014

Clichés

«É um cliché do caralho, mas é verdade».
É o problema dos clichés, a maior parte são verdade. E, temendo a verdade, sedentos de ilusão, fugimos a sete pés do lugar-comum e ficamos claustrofóbicos no caminho porque toda a gente experimenta a fuga. É um cliché... e é verdade.
O pior é que nos embebedamos em clichés sem saber, escondendo a cara na ilusão, e quando damos por nós estamos tontos de verdade. Estamos tontos de amor, porque não há cliché que não seja de amor. Bem lá no fundo fundinho, tudo é amor, sabemo-lo bem.
Verdade safada.
Puta de cliché!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Farzana Parveen

Num mundo que não parece ser o nosso, há sofredoras de garra que, por muito que lho arranquem do peito, ainda escolhem o amor.
Mulheres que ou constroem um coração de pedra e vivem uma vida com quem não amam, ou levam com uma pedra no coração.
Ou aniquilam a sua felicidade ou são aniquiladas.
Se escolhem, são escolhidas... para morrer.
De milhões de casos, revelou-se um. De biliões de pessoas, quantas se revoltam?
Para todas as mulheres que escolheram o amor.
Para todas as mulheres que escolheram a liberdade.
Todas as que sobreviveram. E as que não.
Todas persistem.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Riscos

A sede inegável de um papel branco, deixa-me escrever.
A sede insaciável de uma memória, deixa-me prever.
A fome inesgotável de amor, deixa-me saciar.
Só por um dia. Deixa-me desenhar as linhas e escreves tu por cima. Vem, o cliché de um romance. Escolhes tu o final, prometo. Vamos fazer uma história.
Confunde-te em mim.
Desenha em mim pontos, marca em mim linhas. Escreve-me.
Pinta-me.
Reduz-me ao indelével de uma tinta, tatua-me.
Todos queremos um início, leva-me só meio caminho.

domingo, 11 de maio de 2014

Cansaço

Hoje vou fechar os olhos e as lágrimas cair-me-ão,
rasgando-me o peito e furando o chão.
Estou farta de porquês,
Se chorar hoje é por toda a vez
Em que engoli nós
Que me dobravam em três.
Fui forte,
Colecionei todos os meus pedaços
Deitei-me em todos os regaços
Sorri a todos os cascos
Que para longe partiram.
A morte,
É o destino que miram
Mas não importa a chegada
Importa o caminho.
Não quero questões
Dispo as discussões
Que no mesmo sítio me deixaram.
Hoje fecho os olhos,
Choro o que me dói
O amanhã tem cor de vinho
Mas para a frente é o caminho
Com ou sem destino.
Que importa?

sábado, 5 de abril de 2014

Sustos

Há tantos sustos na vida.
A sombra no corredor.
A travagem repentina.
O descontrolo de estar apaixonado.
O bebé que caiu.
Um estrondo.
Há tantos sustos na vida....
Porque é que o futuro tinha de ser um deles?

sábado, 15 de março de 2014

Amor em estados

Enquanto o vidro da minha janela reflete a luz do sol, eu sei-me a terra.
E diante de mim migram pássaros, diante de mim migram amores... faz tanto tempo que se foi.
O meu amor em estado físico.
Olho o mar e pergunto-me onde estarás no meio da imensidão e sei-te presente. Sempre tão grande demais para mim. Sempre arrebatadoramente gigante para mim.
Olho a terra e pergunto-me onde estarás no meio da pequenez e sei-te ausente. Sempre tão exaustivamente longe de mim. Sempre tão inalcansavelmente infinito em mim.
E diante de mim mudam árvores, diante de mim mudam pessoas... faz tão pouco tempo que ficou.
O meu amor em estado de espírito.
Enquanto o vidro da minha janela reflete o brilho da lua, eu sei-me a mar te.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Mais um cocó no passeio

Praxes

Olá, pessoas (a ler com a voz do Bruno Nogueira quando ironicamente nos cumprimenta no Tubo de Ensaio).
Como boa portuguesa não podia deixar de criticar os outros e fazer exactamente o mesmo, por isso, vim cá cagar a minha sentença... ah, não é isso que andamos todos a fazer? Achei que mais um cocó no passeio não faria mal a ninguém.
Estou seriamente irritada com o jornalismo português, que explora os assuntos até andarmos todos a vomitar a mesma notícia... a sério, já chega.
Aposto que já adivinharam!
Vamos lá falar só mais um bocadinho sobre praxes e a tragédia do Meco.
Não vou especular sobre a causa do acidente... porque eu, tal como provavelmente todas as pessoas neste mundo a não ser o João Gouveia, não sei o que é que aconteceu... também não vou divagar, pelas mesmas razões, sobre a culpa ou inocência do rapaz que viu partir sete amigos.
Mas uma coisa a mim parece-me óbvia: já o Descartes provou que somos seres pensantes e mesmo que as praxes tenham rituais que possam ser a causa desta tragédia, esta podia perfeitamente ser evitada.
Falo do alto da minha vida não universitária e da experiência alheia, claro, mas a mim parece-me que a praxe seja como tudo na vida: há limites. E não há necessidade de julgar a praxe em si, mas sim as pessoas desprovidas de inteligência que, por vezes, praxam. E se estas pessoas desprovidas de inteligência chegam a "cargos de chefia", a culpa não é da praxe, mas sim desta sociedade que abençoa a estupidez.
Não concordo com as coisas menos limpas (física e psicologicamente) que por lá se fazem, mas não nego que há outras tantas coisas que podem ser divertidas e muito úteis, tal como conhecer as pessoas que podem marcar a nossa vida académica do início ao fim. A suposta ligação entre padrinhos/madrinhas e afilhados e a passagem de conhecimento que daí provém é das coisas que faz mais sentido na minha cabeça num capítulo da vida que assusta todos os jovens. A facilidade com que todas as pessoas do curso se podem relacionar é um alívio nesta sociedade em que as idades impõem barreiras difíceis de superar.
Há praxes bem feitas e há praxes mal feitas. Praxar é bom, tal como cozinhar é bom, desde que não se pegue fogo à cozinha porque se decide não usar o cérebro e deixar uma coisa ao lume tempo a mais.
Acho bem que se investigue o caso do Meco, aliás, é impensável que não o façam, tendo em conta o sofrimento das famílias envolvidas. É impensável, também, culpar a praxe. Culpem quem praxa, mas não a praxe. Culpem hábitos, mas não a praxe. Porque daqui a dois anos eu quero chegar à faculdade e ter a felicidade de conhecer pessoas boas (e provavelmente más também, claro), saber distinguir bons hábitos de maus hábitos e dar umas boas gargalhadas. Quero ter a oportunidade de ajudar da mesma maneira que for ajudada.
Por isso, mais uma vez, digo: há maneira de se fazer justiça sem culpar a praxe, mas sim os maus hábitos. E, ainda mais importante, caso a culpa seja realmente dos maus hábitos, há maneira de se fazer justiça melhorando a praxe, se melhorarmos quem praxa.