Ando a adiar as cartas que deixaram, o vazio da porta nua e a casa vazia.
Ando a adiar a minha própria despedida, como se fosse sempre voltar ao lugar estranho que se tornou a minha casa.
Ando a adiar como adiava responder-vos às mensagens que mandavam a perguntar se estava bem e se previsava de jantar, quando já estava a subir a rua e me iam ver dali a minutos.
Ando a adiar porque tenho a cabeça cheia de coisas menos dolorosas do que dizer adeus.
E quando o vazio que sinto se afirma cá dentro, eu encho-o com porcarias banais.
Mas quando chegar a casa e não tiver uma mesa cheia e pessoas para chatear, vão ressoar os fados de Coimbra que ouvimos juntas e a saudade vai obrigar-me a dizer adeus.
É bonito olhar para aquilo que construímos. Um lar de confiança e de riso, que cresceu do zero. Escolhi esta foto e não uma nossa por isso - porque estas luzes são as lanternas que espero que sejam sempre na minha vida e, do outro lado das portas, o calor que nos habituámos a criar.
Sei tudo sobre despedidas e nenhuma delas é fácil. A nossa não é exceção. Mas deixo aqui escrito que a minha porta está sempre aberta para vocês e o meu frigorífico cheio para vos alimentar e o meu ombro livre para chorarem e umas tontices para rirmos juntas.