domingo, 29 de setembro de 2013

Sempres

A nossa vida é medida por sempres.
Um sempre acontece quando uma pessoa que prometeu ficar connosco para a eternidade, se vai embora. Passou um sempre.
Por isso é que há pessoas tão novas em anos que parecem mais velhas, pois sim, são velhas em sempres, abandonadas e despedaçadas tantas vezes. E há, também, pessoas tão velhas em anos que parecem tão novas, porque as eternidades prometidas estão a ser cumpridas. E os sempres ficam e não passam, assim com a alegria da juventude.
Crescemos mais um bocadinho a cada sempre. Vivemos um bocadinho durante cada eternidade, choramos mais um bocadinho ao vê-la desfeita, sorrimos mais um bocadinho no raro momento em que ela volta, às vezes, para partir de novo.
Não abrimos champagne à hora da despedida, apenas ligamos a chorar a um amigo cuja eternidade ainda lhe cobre o ombro onde pousamos a cabeça. Não cantamos os parabéns, nem desejamos "muitos sempres de vida", porque a eternidade quer-se seguida, quer-se só uma.
Mas às vezes rimo-nos com um ou outro sempre, "Que ridículo, o cabrão disse-me que íamos juntos para o lar da terceira idade... nem à primeira chegou... fraquinho.", mas o coração bate mais vazio no fundo do nosso peito.
Um sempre mata mais um bocadinho. Uma ruga no rosto, uma lágrima no colo. Um sempre dói. Um sempre ensina, para mais tarde amar outra vez e, muitas vezes, cometer o mesmo erro.
Um sempre é assim, leva promessas, mas deixa a mágoa. Para sempre.

Poucos sempres para vocês.

sábado, 14 de setembro de 2013

"Escreve-se porque se sente a necessidade de escrever, ou porque se espera que alguém nos ouvirá, ou porque a escrita consertará algo que se partiu dentro de nós, ou porque vai dar novamente vida a algo..."
in Vinho Mágico, Joanne Harris

terça-feira, 10 de setembro de 2013

A luta

Às vezes penso que o passado finalmente me largou, ou pelo menos algumas das partes que mais me doeram. Depois percebo que não é bem esse o mecanismo. Esquecer não é a palavra, nem o verbo, nem a acção. 
Tirando as partes que sempre nos acompanham, que são tão presentes que é impossível não encontrar um sinal nem que seja na roda de um carro, há coisas que vão... ou assim pensava eu. 
Esquecer não é a resposta. Simplesmente envolvemos a memória com uma nuvem e ela esconde-se no nosso céu, mas basta passar os olhos por um diário antigo, por um texto, uma conversa, uma palavra, uma fotografia, uma mensagem, uns olhos mais profundos, uma música e sentimos aquilo que pensávamos já ter ido embora e tudo chove sobre nós. Na verdade, nada vai embora, tudo fica. A assombrar, a relembrar, a ensinar, não sei, depende da perspectiva. 
Tal como quando aprendemos a ler, é impossível olhar para um conjunto de letras sem decifrar a sua mensagem, eu acho que é impossível sentirmos a nossa vida sem aplicar os ensinamentos que retivemos da dor. 
As coisas permanecem, não te iludas. Se tu amaste a sério, eu prometo que ainda amas. E vais amar. Mas não quero que olhes para isso como uma coisa má, por mais que te doa. Tu cresceste, isto faz parte de ti, fez de ti quem és. És forte agora, e os amores diferem de pessoa para pessoa.
E insistes em pensar, tal como eu, "eu só quero que isto me largue, eu amei demais a pessoa errada, deixa-me amar a pessoa certa, larga-me, por favor", mas ambos sabemos que isso é impossível. Vais ficar sempre com isto na alma. Podes passar uns tempos muito bem, mas vai haver um dia de nevoeiro e tu vais saber que as tuas nuvens desceram. Vives uns bocadinhos no passado, choras mares que já nadaste e às vezes pensas que nunca na tua vida vais ultrapassar isto. E não vais. Mas há sempre um barco salva-vidas que se arrisca a salvar-te. Vives feliz até vir uma outra tempestade e tu achas que é melhor atirares-te ao mar, e aí virá o barco salva-vidas outra vez. Umas vezes até vais saber nadar até ao cais e vais orgulhar-te disso. 
E é assim a vida, porque é que escondes a cara ? Vive o que podes no barco, mas não tenhas medo do mar, nem do céu, eles irão sempre ditar a tua viagem. 
Esquecer nunca foi a palavra, mas lutar há-de ser sempre uma boa solução.

(Desculpem-me este devaneio de adolescente sofredora nos seus florescentes 16 anos... mas faz parte. Pedro F, obrigada, tu sabes)