domingo, 22 de junho de 2014

Tranças

Canta-me ao ouvido uma canção de amor e passa-me a mão pelos cabelos, eu deixo. Desfaz-me o penteado, desfaz-me a trança que me enlaça em tristeza, desafoga-me da mágoa onde por ti parei de nadar.
Hoje chove aqui no jardim e em cada gota de chuva duas lágrimas de distância. Já devia ser verão, mas não sei onde estás... podes voltar, é um convite.
Arranca-me deste sítio onde tudo parece gritar por ti, desfaz-me da dor de não te ter, tal como me desfizeste da pele de quem era quando entraste no meu horizonte.
Agarra-me a mão nas estradas desconhecidas, conduz-me no escuro das noites e adormece-me em cafunés enquanto choro o teu peito.
Abraça-me os ombros nos caminhos sabidos, encontra-me na luz do dia e encosta a tua cara enquanto rio as profundezas da minha alma.
Planta-me as sementes, oferece-me as flores, recolhe-me os frutos e envolve-me no outono quando soluçar as folhas caídas.
Tira-me o frio de inverno e apaga a chuva... estamos em junho, já devia ser verão neste jardim.
Desfaz-me. Recompõe-me.
Entrança-me.

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