sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O Artista

As manhãs espelhavam-se incertas e em cada reflexo um desespero.
Vivia-se estupidamente naquela casa, começando pelo facto de viver nunca ser estúpido.
As inspirações surgiam-lhe em horas cegas, trazendo artes inconcebíveis. Frustrações.
Raio do artista, só pensa quando não deve.
Tropeçava a cada degrau que subia e culpava o destino. Não sabia ele que eram as suas pernas gastas? Não sabia ele que os deuses não existiam e os fados ouviam-se só nas casas de Portugal?
Artista sabe tudo, só gostava de não saber.
Dizia ele que melhor era a utopia, escondendo-se em cada sonho, evitando a realidade como um louco. São era ele, o único. São era ele, que conhecia os dois mundos e preferiu a fantasia.
Artista esconde um pensamento no chapéu e um lápis no bolso, para desenhar só mais uma nuvem sobre a própria cabeça. A arte não sai da felicidade.
As madrugadas reflectiam-se incertas e em cada espelho um desespero.
Raio do artista, só ama quem não deve.


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